quarta-feira, 16 de julho de 2008

As visitas de tardes...


Quando as roseiras estavam suavemente secas...
Mas ainda com flores...
Somente algumas...

Simplesmente aquele antigo terreno era pequeno...
Porém, de uma imensidão abstratamente física ...
Psiquicamente expansiva e acolhedora em seu silêncio devagar...

Apesar de não ser o domingo no interior da cidadela, dentro dos cercados do quintal dianteiro era mais sossegado do que o comum...
E o deitar suave do arvoredo calmo sobre a rua cinzenta dava sentido ao cinza dos pedregulhos...
Seu verdume não era apenas cor... sua cor não era apenas minha percepção...
Minha percepção não era mais percepção e percepção não era mais...

O que sossegava a viela em atemporalidade não era apenas percepção...
Tudo não estava em sí mesmo...
E assim assoviava-se...
Quanto mais calmo o dia era, mais suave o vento levava os pássaros...

Onde não havia ninguém, a fumaça de uma fogueira recente subia...
Era outro quintal, não o da casa, mas o da porta sem quintal...
Pelo outro lado da casa, onde a rua não se via, criava-se um quintal...
Onde nunca viu-se tal lugar...
Mas ele sempre esteve lá...
Todos o sabiam, todos os que ali nunca estiveram, mesmo pensando estar...
Mesmo percebendo estar...

Os dias que se faziam entre as festinhas de aniversário não aconteciam...
Mas todos ali adoravam provar os quitutes e refrescos das ternas festinhas da menina a qual todos atribuiam uma percepção menor dos fenômenos naturais da existência...
A realidade se desfazia para sua clara percepção das tardes, dos ventos...
Tudo não passava de dissertações fugazes por entre o cotidiano dos que a criavam e de todos os que ali visitavam...

Pois hora ou outra viu-se por si mesmo, o tempo dali onde não se contam horas, que ninguém passou de fato por aquelas festinhas e pela ternura da realidade própria da pequena aniversariante...

Nunca identificou-se, com a percepção dos demais, a qual conduz os demais, que não se percebe pela própria percepção a percepção de quem percebe de modo a não perceber as coisas...
A singularidade das relações psíquicas que dissipam-se dela, fazem-se de modo a não fazerem-se...
Distanciando-se de todas as tentativas de proximidades perceptíveis...

O fogão esquenta toda a casa...
Desde quando não havia o frio...
Pelos amontoados de calma, a doçura de sua infância floria em si mesma, onde, estendida por toda sua vivência, estava...

A visão de uma realidade pelos que ali visitavam terminava em si mesma...
Assim, tal doçura não era apenas o fruto de uma percepção limitada em si ou no que ela pode conferir como real fora de si...


Mosiah Schaule

quinta-feira, 3 de abril de 2008

... A porta que por onde não se sabe...


A porta se abria...
E não via-se ninguém lá dentro...
Lá fora...
Também não havia ninguém que abria a porta...
Mas via-se alguém dentro da casa...
Mesmo sem ninguém estar lá...

Não sabia-se o que era que estava do lado de fora da porta...
Apenas via-se de dentro da casa que alguém estava lá fora...

Enquanto o ruído se fazia...
Ao abrir-se a velha porta...
Queria-se saber, de dentro da casa vazia, quem estaria mesmo lá dentro, através de uma ligeira observação pelo lado externo da casa, colocando-se a uma interpretação da expeculação de quem abre a velha porta, para em seguida, no vazio da casa, vista de fora para dentro, compreender quem está abrindo a porta, vislumbrando a partir do vazio interno da casa o seu próprio vazio, ou a identidade do seu vazio...

Com a intersecção dos campos vazios...
Que vagueiam de um para o outro...
Pelo limiar do caxilho envelhecido da porta da casa...
Quem esta dentro da casa questiona-se sobre a internalidade de sua existência, devido a evasão contínua de uma permanência externa nos campos para além da porta, seja de dentro para fora ou de fora para dentro...

Pela porta, tentou-se compreender quem abria de fora para dentro, quando dentro se exteriorizando lá fora, mesmo sem dentro estar e mesmo sem fora estar, e nessa expectativa, a orientação dos de fora para dentro já invertia-se...

Quando lúcidos...
Da imensidão existencial...
Que configurava-se com a internalidade e externalidade do espaço...
Procuravam ver-se realmente do lado de fora da casa...
Antes mesmo de terem entrado...
Porém, com a percepção de que verdadeiramente haviam saído...

Mosiah Schaule

quinta-feira, 27 de março de 2008

Dia outonal...


Haviam alguns velhos...
No meio do aldeião...
Todos com carapuças...
Alguns meio símios...

Um deles andava por entre vasos ornamentais...
Confundindo-se, ele mesmo, com as lamparinas ilusórias...
Os demais, o viam apenas no seu pigarrear...
Outros, dos velhos, faziam, das marteladas em pedregulhos, uma espécie de dentada memorável, onde saboreavam o passado...

Mais que ferramentas...
Os martelos tornavam-se órgãos vitais em seus punhos....
Abaixo de seus super cílios abriam-se cabanas diminuídas
Onde moravam em suas lembranças...

Mesmo suas lembranças...
Desembocavam num pensamento inexistente...
Eram reflexos furtivos, de devaneios extintos no passado...
Projetados agora em um evento ilusório...

Assim...
De suas orelhas um tanto quanto deformadas...
Saíam violões...
Tocando melodias tristes...
Melancólicas e úmidas...
Onde podia-se associar idéias, como alguém que diz:

“- Ontem, todos os meus problemas pareciam tão distantes...
Eu acredito no ontem...”

Eram cordas moles...
Que saindo do violão, desciam na água...
Em poços artesianos...
Onde pombos sossegados amoleciam também...

Por horas...
Não conseguiam permanecer nem dentro, nem fora das casas...
As vezes, não sabiam existir...
Porém, também não sabiam não existir...

Eram como visões...
Visões deles próprios...
Que nos gramados secos...
Costuravam seu sono...

Mosiah Schaule

sábado, 22 de março de 2008

Submerso...


Sem mais cansar-se...
Assim, mais adiante, digo a mim mesmo para hoje ouvir...
Enquanto árvore e sorriso de polvo, entre recifes de sonhos...
Pois o fundo se expressa onde sem mais pressa existe-se...
Nas razões sem luz, nos mundos nascidos na escuridão profunda...
Distantes do que se sabe por consciência...
Onde não se sabe, onde multidões semiológicas aproximam-se e afastam-se...
Sais de logos são partículas na fluidez do imenso...
E o movimento entorna, revolto com toda a intensidade por onde quer que exista...
E no inteiro de seu som, recortam-se pedaços de silêncio profundo...
Onde movem-se uma infinidade de céus...
As criaturas incomunicáveis em presença fazem-se todas uma...
Assim, submerso posso experimentar as imagens que se criam...
Na imensidão de instantes...
Onde em cada recorte do silêncio, em cada fragmento de silêncio está uma pintura...
Em ânimo próprio, tais fragmentos do silêncio autorecortam-se e unem-se...
Sempre de modo inusitado...
Há em cada uma de suas partes o desvio do entendimento...
E a percepção nas profundezas afóticas, se apresenta...

Mosiah Schaule

quinta-feira, 13 de março de 2008

... Distante... ser distante...

No sentido...
São entre as casas dos sentidos...
Entre meio as paisagens sensíveis... Esqueceu-se também de expressar-se...
As tangentes não vertenciais, correntes de tantos tempos impensados...
Inalterados por tal supremacia própria de sí... de seu código interno...
Suas combinações, são pais de momentos eternos e raríssimos...
Tais configurações de momentos e movimentos geram a matriz dos sonhos...

Raízes... mais que nutridoras...
Mares de vivências descontínuas...
Sonambulismo paisagista, das cachoeiras de emoções torrenciais...
O aflorar de perpetuidade interna no que existe apenas depois de não existir...
Como o não ter mais, ser a porta para se ser....
Não chove aqui por que não precisa...
Quando se chove aqui é por que também não precisa chover...
Acontece o impreciso....que invariavelmente é preciso em acontecimento...

Mais que flora madrugal....
Mais que matizes psicotrópicas...
Ainda que desconfigura-se a experiência aprendida, movimenta-se...
E a nova experiência é complexificada em estrutura...
Vezes com o abandono dos modelos, vezes com transmutação de elementos...
E ainda chove, mais que antes, menos que ante-antes...
Correu rio, subiu rio, subiu-se o rio...
Centenas de fôlegos, e ainda mais centenas de dez fôlegos na água forte...

E agora é noite...
De fato, já estava noite, mas esta noite a partir de agora é diferente...
É mais noite que antes...
É a parte em que acontece a noite da noite...
E para isso vive-se o dia...
Dentro da noite...
E as razões das coisas suspiram por vezes...
Por vezes, por vozes, por des-serem...
Sem dentro, as coisas da razão, que justificam a des-razão das coisas...





E por mais que queiram...
Os bichos da noite devoram estas coisas...
E então se dá a transmutação...
A cada mordida... a cada unha que rasga a pele...
A cada investida do animal noturno que me devora...
Descortinando-me...
Devorando o que não existe em mim...
E pouco a pouco me trazem para perto deles...
E então tenho outra pele...
E então não sou...

Nas estradas estreitas...
Nos arredores das estreitezas...
Plantas de caráter supremo...
Vegetações e vendavais...
O sinal das grandes plantas, o uivar das grandes folhas...
E vem de longe o cuidado para com as grandes tormentas...
Vem seja de onde for, mas o cuidado sempre vem e é...
São como galhos rígidos e flexíveis...
São como mãos que agarram com o cuidado e com o zêlo...
De qualquer momento, em todos os lugares...
Simplesmente tudo esta em apenas um lugar...

E a tormenta, a tempestade...
As águas do céu...
As águas da terra...
As terras na água e o vendaval que assopra...
Onde quer que suspire o vento e suas criaturas, se dá para ouvir...
Mais do que ouvir...
E ainda se ouve mais do que se pensa ouvir...
Entrado na água, subindo pela água do rio...apenas não se pensa...
E o céu também vem ao rio...
A noite se faz dentro e fora do rio... permeando todo o reino de vegetações...







Uma ave dos cantos notívagos...
Costumeira a cantar nos cantos da vegetação...
Sossega e canta...
Suspira e sossega...
E canta...
E olha, me olha...
Me reconhece e canta...
Canta e suspira, sossega, me olha, reconhece-me e canta...
E se dá o que se desconhece, mas é o que se reconhece...
À escuta de mim e da ave está nosso incomum...
Em nosso ímpeto interno...
E soam os ventos, soam os vendavais e soa junto nosso reconhecimento...

Suspirando com a terra úmida...
Vai-se o rio terroso que suspira também...
E a água é a nossa água...
Enquanto se vê o olhar das pedras, tudo se move...
As pedras se movem, sente-se o movimento no interior da terra...
Perde-se enquanto se encontra neste lugar de múltiplos relevos...
Se condensa a primitividade essencial a cada animal presente ali...
Entoando-se voz primitiva, suspirando-se a fluidez primal...
O olhar das plantas, o uivar da noite e sua cantiga que acalma...
Ela oferece o medo e o sossego, aceita-se o que se quer...

Este lugar, a noite...
Não há variabilidade...
O olhar que desprende-se...
E as névoas, saem da água, saem da terra e estão entre as plantas...
Cobrem os bichos e fazem a unidade das coisas daqui...
Tudo é uma unidade apenas...



Mosiah Schaule

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Incursão em pedras que sumiram...


Em breve análise do indivíduo, o encontro da redutibilidade comportamental é a nível invisível, porém, tangível se apresenta; logo uma redução desse encontro se compõe nas somas dos objetos aparentemente movedores do mesmo, que, reduzido ao desencontro de sí, e por conseguinte, do que mais possa ser fenômeno para este, que a cada passo em direção ao outro (outro este podendo ser pessoa, bicho ou coisa) acaba no meio do caminho...
Suspeito caminho... da comodidade, da segurança obtida a partir dos outros, que por sua vez se encontram fartos de suas próprias incertezas, mas que por valores ilusórios cultivados de modo inconsciente, não tardam em tecer teias, uns com os outros, desenvolvendo uma fragilidade em tais relações travestidas de aprovação (social)...
Observa-se a invisibilidade de um fenômeno interno correspondente a um desenvolvimento paralelo ao psiquísmo, que também, em contraposição ao primeiro, acaba por ser invisível, mesmo com suas pseudograndiosidades, que, nascem e morrem através do tempo.

Mosiah Schaule