terça-feira, 23 de outubro de 2007

Louva-a-Deus...


As pastagens....brancas agora, verdes também mas, não agora... qual a cor das figuras que não vejo?...
Qual a vida que espera nos olhos que já se fecharam?...
Tem ainda vida nas memórias que não tenho...
Que linda vida pela frente tiveram aqueles sonhadores que deixaram de sonhar mas realizaram com enxada e suor o seus suspiros e aqui me trouxeram...
O afeto que não existiu, de fato, ficou guardado numa verdade que possui o dom de não existir para não terminar...
E a caminho de nascer.... a estrada é linda, é desconhecida e meus pés são dela parte...
A estrada com a terra que é parte do que sou...
E a semente deve estar ainda guardada... não germinou ainda...
E as mãos estão tão velhas.... elas esperam a tantos anos distantes de mim... distantes de si mesmas...
As mãos são novas, são virgens e santas....
Os santos acordados, nos vendavais que sopravam muito antigamente quando nem mesmo os pecados existiam, sabiam a hora certa de dormir....
E como é lindo o sono dos que dormem acordados.... e como é simples o não ser...
E as orações dos arbustos são ouvidas à tardinha... em sua doce humildade...
Eles são santos também...
Todos os ventos, como sopros, todos os dias sem mais nada a ser além da vida que não acaba por não saber que existe...
E mais cedo acordam os Louva-a-Deuses hoje... Eles me acordam toda a manha...
O sereno levemente frio tem as riquezas do tempo passado que me aguardava...
Ainda não amanheceu e os Louva-a-Deuses estão acordados e suas cabeças serenas, com seus mil olhos vendo gota a gota o sereno que se forma sobre as folhas do alecrim...
E como senhores do amanhecer, recebem com a mais nobre saudação cada fração de raio de sol que da janela se aproxima e entra...
O dia nasce calmo e as manhas nascem todas elas numa mesma aurora...
São mais que mil olhos que atentos veem para além da vida, para os portões que abriram-se no dia em que da água saímos...
E o som que se acalma, a calma que no soar dos sinos do anoitecer faz as orações que deitam o dia para seu descanso, para seu canto onde longe se vai...
Para seu ir que fica onde me vou também... o dia que de sua fase visível se afasta... de onde me aproximo também...

Mosiah Schaule

terça-feira, 16 de outubro de 2007

O Monastério de Espelhos




No caminho do Santo sossego
Encontrando uma justificativa nos lábios do justo diabo
Que é tão santo quanto o santo do caminho que se apressa...

Faz promessas no escuro dos sentidos
Que, aflitos, seu instinto abençoa
Aferroa agora e castiga em fogo o santo no abrigo do algodão...

Vê-se agora o algoz que enganava o caminho...

Mente o sacristão da porta
Sem caminho, que desfaz-se na hora em que reconheço em mim...O Diabo...


Mosiah Schaule

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Campo, numeral, o simples e o descanso...



Correndo... parando um pouco para descansar, era mais que chuvoso, mais que tempestuoso... e floresciam os trigais no campo, o campo nascia e sua existência ganhava sentido a cada espiga saída que deixava os domínios do advento,figurando um patrimônio fixo, cúbico em desabstração. Tal realidade está destituída dos pormenores infíxos, munidos da perecidade que lhes são próprias.
A fixação do espectro consciente em função de prerrogativas demarcadas em origens inaturais, na própria origem da mesma, estão por sua vez, variáveis e desmarcadas, uma vez que um numeral de significância substancial terá de ser interpretado em configurações que lhe sejam exteriores ao significado, possibilitando ao sistema externo uma gênese e um parir do entendimento tal que em partes sempre existiu, porém, dá-se a luz a um recém nascido a cada composição inaugurada pelo sistema. A palha no roçado também descansa agora, o seu tesouro já madurara, a fome que, é mãe, está segura nas mãos das mães com fome que, nas mãos dos que se foram, que nunca foram cativos de saciedade, não se soltam. Foram aqueles Centauros de outrora que plantaram as raízes do que alimenta a alma e o sangue, com sabedoria e santidade capazes de calar a fome sem matá-la. Junto das sementes, lançaram a origem do eterno que cresce com os vegetais, que na mão do simples alcança a mão do campo e a mão dos Centauros pais. Assim, eles dão a eternidade aos movimentos dos três, que juntos são os quadrigêmeos que se fazem e refazem, um após o outro, um sendo o outro, um gerado pelo outro tendo todos os quatro, um dentro e fora do outro.

Era um casaco muito confortável, feito com palha seca que também descansa. Uma deita-se no roçado e outra sob as costas do roceiro. Esse, ilumina as estações do ano. Assim se trabalha na colheita para, um dia, deitar-se as costas sob o solo que todos os dias segura o simples dando toda a firmeza de que este necessita. Neste dia poderá ser coberto também com a palha seca, que descansará sobre este, permitindo o seu descanso seguro, como assegurava o tesouro antes quando ainda era verde, esperando calma a mão do simples que com fome vem colher o fruto, despir-lhe de sua palha que agora cobrirá o solo.
E as palhas sempre descansam mas sem nunca estarem cansadas...

Mosiah Schaule.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Parecia um gramado... um extenso gramado...


Eram cinco da manhã de ontem quando apareci, mais tarde que isso, hoje bem cedo, mesmo que sem sono, com sede talvez, mas não havia anoitecido nesta madrugada. O que parece na verdade do seu locus é um dia anterior a isso, mesmo que a compreensão destes dados alegóricos indicadores da cronologia tangível sejam imprecisos pra quem se incide no segmento retilínio do presente, e, há quem diga, serem exatos. Eu digo ser exato. Na verdade eu digo ser exato apesar de não o ser. E apesar de não ser exato tal exatidão se faz presente apenas na necessidade de se realizar. Eu digo na verdade que não são exatos. Porem digo sem saber o que é que deve ser ou não preciso e exato. Coerente seria se não fosse a falta de coerência própria da natureza inata dela mesma que, inocente, passa ultrajada de infinitas possibilidades na realidade humana. E há quem diga ser irreal. Eu digo ser real, mas é não real na realidade própria do que não existe exato, inexistindo na exatidão das possibilidades imprecisas, próprias do que existe na inexatidão. Isso sim, muita gente passeando nas alamedas segurando correntes e coleiras na ponta, porém, sem nenhum cachorro...como pode isso? Por que fazem isso? Acreditam que há um cão ali? E é todo mundo fazendo isso...não consigo compreender o que de fato há na extremidade da corrente inserido na coleira vazia...mas é algo que move os indivíduos.


Hoje desengavetava uma porção de coisas usadas pelo simples fato de avaliar seu valor, como um inverno passado, camisas nunca usadas, gravidezes, soluços, binóculos, pilhas, livros de latim, um dente, e que coisa... coisas nunca usadas no meio delas.... Antes que os ratos comam o que nunca foi usado separo-as do meio. Os ratos são necessários na gaveta com seus ninhos. Alguns dizem que fedem, porem eu nunca senti cheiro algum deles, e olha que são muitos. Gostam daquela gaveta e estão lá desde sempre. Eu acredito que estão lá desde antes mesmo da gaveta ter sido feita. Eu sei que eles estão lá desde antes mesmo da gaveta ter sido feita. As vezes eles são uma espécie de pássaros de gaveta mas, na maioria das vezes, são ratos. É algo nas coleiras que não é... e as pessoas são seus próprios cachorros pois não há cachorro algum por ali... está vazia. Todos encoleram a própria mente e por aí saem, pois nem os cães mais acompanham-lhes...

Mosiah Schaule