quinta-feira, 27 de setembro de 2007

2º parte do texto anterior ( E lá fora...) ou O pensamento daquelas casas...

Imagem da Obra de Salvador Dali.

A lembrança da paisagem
Que pensada noite passada figura-se no sono mesmo que a constitui...
E do campo, vazio e quieto
Soa o laranjeira sob os fios de luz
Que de um vilarejo próximo vem e vão...

No vão que fica entre um pensamento e outro
Se pode caminhar mais calmo pelo eterno...

Eu gosto das horas mas não de relógios...

É meia tarde...
E a anã feliz sorri enquanto escova seu único dente...
No capuz velho e desbotado traz seu segredo...
Ela é mais do que se lembra ser...

E no cesto em que dormia
Proximo ao trigal virgem
Também dormiam sementes
Sementes que criaram o vilarejo...
Sob algodão trançado
Limpo como sua mãe...

Esta vai de trem aos comércios...
E os vagões estão cansados
Cansados de tantas canseiras que neles ficam...

E assim o trem envelhece...
Dia após dia...
E esse velhos do vilarejo
Nunca estão velhos...
Nunca cansam...
Nunca morrem...

E ao fim do dia...
A doce anã esta na companhia
De sua velha e incansável mãe...

Mosiah Schaule.

sábado, 22 de setembro de 2007

Lá fora sempre tudo adormece...


E chove calmo agora...
Não é dia nem noite...
E o sossego é um diamante que se oculta...
E assim me oculto, e ele encontro na imensidão de um quintal antigo onde os vegetais superiores me observam...

Chego de longa viagem...
E passo a passo na casa que só existe para mim: eternizo-me...
Do quintal sombrio mas acolhedor avisto distantes os elefantes enfileirados na estrada...

A sala...o cômodo mais antigo da casa...
Mais sozinho aqui dentro...
E, a cada gota que da goteira goteja na lata do assoalho, fico mais sozinho...


E então estou próximo de meus ancestrais...
E então tenho a mais honrosa companhia...

Não há goteira nenhuma na sala...
Não se fazem aqui goteiras como antigamente também...
E por isso talvez não precise mais chover lá fora se estou abrigado aqui...

Quase escuro por completo o quintal...
Mas não enxergaria de outra forma...
O vendaval está em tudo...
E próximo a meus pés estão entre-soterrados cinco relógios...
Dois de pulso e três de bolso...muito velhos...
Eles ventam muito também...
Uns com ponteiros, outros sem...
E, apesar de antiquíssimos, um deles funciona...
Porém, não há como entender a hora que ele marca...
E isso está em cada árvore...

São muitas as variações do verde no escuro...
Bem como há variações do escuro que com o verdume se modifica...
Então por isso respondo sempre as cartas...
Apesar de não existirem cartas para responder...
E mesmo sem saber o endereço...
Minhas respostas sempre chegam...

E os pássaros e cães vem junto ao quintal...
Sempre a noite...
E eles também sempre enxergam...

Mosiah Schaule.